Meu salão não é it, mas é top!

“It” é uma palavra em inglês, mais precisamente, um pronome que se refere a coisas e objetos. Porém, na linguagem coloquial ele adquiriu um novo significado, sendo utilizado para se referir a todas as coisas que estão na moda, em alta no momento, como as it-bags, as it-girls, as it-bloggers. Ou seja, tudo que é bam-bam-bam.
Justamente por não me considerar nenhum pouco it e,sim, muito pé no chão ( eu realmente não acredito que o que é classificado como “it” seja a melhor a opção) e como eu decidi que em outubro eu iria contar mais sobre mim para vocês, eu resolvi falar sobre o salão onde eu corto o meu cabelo. E o que ele tem de tão especial?  Nossa, você nem imagina…

Eu nunca gostei de salões de cabeleireiro que fossem caros de mais ou renomados de mais. Não pelo valor, mas pelo ambiente. Não gosto de me sentir mais uma e como se estivesse fora do meu habitat. Por isso, corto o meu cabelo no mesmo salão desde que tenho 5 anos de idade. A única vez que cortei em outro lugar foi quando morava em BH. Mas foram duas vezes e porque ficaria muito tempo sem ir a Juiz de Fora.
O nome do salão é Salão Nina e fica na Monsenhor Gustavo Freire, no bairro São Mateus. E a pessoa que corta a minha cabeleira é a Dona Nina, uma senhora de 75 anos que batalhou muito para ter seu próprio espaço. Lá, trabalham sua filha e sua nora, ou seja, um ambiente família, frequentado por um monte de senhorinhas fofas que chegam lá doidas para serem paparicadas.

Dona Nina e ao fundo a placa do salão
Aos 75 anos, Dona Nina é a responsável pelos cortes de cabelo do salão e adora arrumar as clientes com muito carinho

 

O bonito não está só na simplicidade e no carinho com que a Dona Nina atende as clientes, mas também na história dela para chegar até aqui, com 43 anos de profissão, cheios de histórias e batalhas. Antes de vir para Juiz de Fora, Nina morava no Rio de Janeiro com a família, o marido e seus dois filhos pequenos. Morando no subúrbio, fez um curso de cabeleireiro e começou a praticar cortando o cabelo da filha Rose, então com 5 anos. A vizinhança notou e não deixou a oportunidade passar. Logo Nina cortava o cabelo de várias pessoas do bairro. O tempo foi passando, o bairro crescendo e ficando mais perigoso. Assim, de mudança para o Engenho Novo, Nina passou a trabalhar à domicílio, indo até as casas e apartamentos da Zona Sul para atender as clientes. Por ser de confiança, não demorou até que fizesse uma boa clientela. Mas o percurso de uma hora e meia diariamente com uma bolsa enorme deixava o cotidiano difícil. E foi aí, que uma de suas clientes, querendo ajudar, disse que no salão de cabeleireiro do Tijuca Tênis Clube havia uma vaga para cabeleireiro e que ela gostaria de indicar a Nina pessoalmente para o presidente do clube. Feito e dito, Nina conseguiu seu mais novo emprego.

Lá ela ficou por muito tempo até que veio visitar seu irmão e manifestou o desejo de mudar para Juiz de Fora e ter sua casa próxima a dele. Uma semana depois, ela recebeu a ligação do irmão, dizendo que o terreno ao lado havia vagado e que estava reservado para que ela viesse fechar o negócio. Pronto, seu desejo estava preste a ser realizado.
Para que isso acontecesse, Nina ficou na permuta entre Rio e Juiz de Fora por mais de um ano, vindo trabalhar aqui para poder dar seguimento com a obra da casa e continuando no Rio, para poder pagar todas as despesas e sustentar a família. Com a casa pronta, ela viu que estava na hora de sair do Tijuca Tênis Clube e mudar definitivamente para Juiz de Fora. Apesar de ter todo o material para o salão, ela ainda não tinha condições de ter seu próprio espaço. Assim, o Presidente do clube, a fim de ajudá-la, propôs que ela trabalhasse no clube aos domingos e segundas e o que ela fizesse seria dela. E assim foi, até que ela conseguiu se mudar de vez para cá, abrindo seu primeiro salão na Fagundes Neto, na São Mateus. Depois de 25 anos na cidade, Nina já mudou de localização três vezes, indo para a Independência, depois para a rua Manoel Bernardino e, por fim, na Monsenhor, onde está hoje.

Com tanta coisa ruim acontecendo e tanta perda de valor para onde se olha, vale a pena contar a história de quem nos faz parar para pensar sobre como valorizamos e o que fazemos da nossa vida.
Dona Nina, obrigada por compartilhar a sua história comigo. A sua emoção ao fim da entrevista se reflete em mim, agora que termino de escrever sua história.

 

Obrigada por ter me dado o prazer de te entrevistar e por cortar meu cabelo tão bem há tantos anos! <3
Obrigada por ter me dado o prazer de te entrevistar e por cortar meu cabelo tão bem há tantos anos! ❤

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